Por Edu Fernandes
Realizadores, críticos e outros profissionais da área reclamam do pouco público que o cinema brasileiro obtém. Porém, o festival Comunicurtas encontrou uma solução para fazer centenas de pessoas prestigiarem curtas nacionais durante uma semana.
O evento aconteceu em Campina Grande (PB) entre 27 de agosto e 1º de setembro. Em todas as sessões, muitos espectadores precisaram se acomodar nos corredores da sala de exibição do Sesc Centro.
Boa parte da plateia é formada pelos cineastas locais, seus conhecidos e convidados do festival vindos de outros estados. Essa receita forma um público participativo, que se envolve com as imagens projetadas.
As risadas e os aplausos são tão sonoros e intensos que, em algumas oportunidades, a sessão precisou ser pausada entre dois curtas. Nesse intervalo forçado, os presentes encontravam tempo para extravasar a emoção em gritos e palmas. Durante a exibição, o público se une para rir dos momentos engraçados, seja uma piada ou a aparição inesperada do traseiro desnudo de um ator.
Uma das razões do sucesso do Comunicurtas junto ao público se deve a uma programação inclusiva, com atrações que transcendem a sétima arte. A drag queen Shirley Miami é um exemplo da irreverência do evento. Em uma das noites, ela dominou o palco para fazer uma gincana com os realizadores.
Além de animados, os espectadores são receptivos com a diversidade sexual. Quando há cenas de beijo ou relações sexuais entre atores do mesmo sexo, não há reações homofóbicas. Esse tema foi abordado em vários curtas e pela Mostra Interiores, de Fábio Takahashi e Walter Brandão. As fotos mostram cenas cotidianas de famílias formadas por gays, lésbicas, travestis e outras pessoas envolvidas com a aceitação LGBT, como um advogado especializado em adoção por homossexuais. Interiores foi uma das três exposições fotográficas abrigadas pelo Comunicurtas.
A personificação do espírito do festival pode ser percebida nas atividades de Rummening Tavares. Ele foi um dos membros da numerosa equipe do Comunicurtas responsável pela logística de transportes do evento.
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Trio Silêncio Por Favor cuidou da trilha do cerimonial Shirley Miami anima o público
Durante o cerimonial, Rummening tinha outra ocupação: cantar e tocar triângulo no Trio Silêncio Por Favor. A banda executava vinhetas de forró e baião enquanto cada realizador subia ao palco para apresentar seus curtas. Na noite de 29 de agosto, o compromisso musical dele foi maior, já que o Trio foi o responsável pela animação da programação social.
Além do apoio aos convidados e da colaboração musical, a participação de Rummening no Comunicurtas também pode ser vista na tela. Seu documentário Dona Mariaaa! fez parte da Mostra Estalo, para filmes de até um minuto de duração. O músico saiu do festival com menção honrosa do júri, pela homenagem que fez à sua mãe por meio do curta.
ARTE E POLÍTICA
Em sua noite de encerramento, o Comunicurtas mostrou sua faceta política. André da Costa Pinto, diretor do evento, convidou ao palco todos os candidatos a prefeito de Campina Grande. Alguns compareceram e outros enviaram representantes. O festival aproveitou o ano eleitoral para fazer os políticos assinarem uma carta-compromisso sobre investimento de verba pública no audiovisual. Atualmente, existe apenas o edital da Universidade do Estado da Paraíba (UEPB) para financiar a produção local.
Na ocasião, André apresentou dados para comprovar a multiplicação da produção de curtas na Paraíba, especialmente em Campina Grande, desde a criação do Comunicurtas. Em seguida, avisou que nenhum dos políticos iria discursar e chamou toda a equipe para lotar o palco. A plateia aplaudiu de pé e muitos dos presentes foram derrotados por lágrimas de emoção.